O torcedor vê o gol, a rede balançando, o brilho das estrelas no gramado e sente o vibrar das arquibancadas. O torcedor sente, mas muitas vezes não tem ideia do que está por trás do jogo. Se o futebol pode ser apaixonante dentro de campo, fora deles muitas vezes é sujo. E ninguém vê. Ou quase ninguém.
O lateral-direito Nei viveu um pouco de tudo. Brilhou, vibrou e sentiu, mas também sofreu com promessas não cumpridas, salários atrasados e falta de transparência.
Hoje com 31 anos, o jogador, que chegou a viver bons momentos no Atlético Paranaense, conheceu o brilho e a sombra no Internacional. O brilho veio em forma de gols, um inclusive contra o Barcelona, títulos e carinho da torcida.
Para a reportagem de oGol, o atleta relembrou os bons tempos de Colorado, mas lamentou a saída. "Não foi o Nei que não renovou, foi a diretoria na época que fez sacanagem com a minha pessoa".
O jogador falou bastante de sua passagem pelo Vasco, que teve poucos jogos, salários atrasados, um afastamento sem explicação e a admiração por Eurico Miranda.
"O Eurico é um cara de caráter, palavra. O que ele fala para você, ele cumpre, independente de papel ou não. Ele é homem. Tudo que ele falou para mim, vírgula por vírgula, ponto por ponto, ele vem cumprindo até hoje. Dificilmente você encontra pessoas assim".
Após ter disputado o Campeonato Catarinense pelo Almirante Barroso, Nei treina no Rio de Janeiro aguardando propostas para o restante da temporada. "Se for para jogar Série B, Série C, o que pintar... Eu quero é trabalhar".
"É difícil dizer. Eu fui muito bem no Atlético Paranaense, fui bem no Inter. O único clube que não tive passagem legal foi o Vasco. Com o Inter, eu mantenho contato praticamente com todos os jogadores da minha época, fui muito feliz no Inter, tenho amizade muito grande com jogadores que hoje viraram diretores, empresários... O Bolívar, o Tinga... São amigos pessoais fora de campo. E a torcida sempre foi muito boa, sempre me abraçou, sempre foi do meu lado. Sempre fui recebido com muito carinho, aplausos, pedidos para voltar...
"O título da Libertadores foi o título mais expressivo, então fica marcado. Torcida gritando teu nome... Um estádio inteiro gritando, é um momento marcante da tua carreira. Sair na rua e todo mundo chegar e te abraçar... Minha passagem toda foi muito boa. Título da Libertadores, gol contra Barcelona, gol na estreia da Libertadores contra Emelec.
"O gol contra o Emelec, minha estreia na Libertadores. A gente perdeu o jogo, mas foi um gol que todo mundo fala que foi muito bonito, de fora da área. Meu gol de falta contra o Santos, na Libertadores. Peguei muito bem na bola. Além do gol contra o Barcelona (amistoso em 2011), que não foi tão bonito como foram os outros dois, mas foi contra o Barcelona.
"Eu me arrependo de, primeiro, ter confiado em pessoas. Eu falo para todo mundo: o cara que falar, bota no papel. Porque poucas pessoas têm caráter para seguir o que falam. Eu nunca quis sair de lá. Tinha renovação encaminhada, onde recusei propostas boas de clubes grandes na época, inclusive pagando mais. O presidente na época deu a palavra que ia renovar. Falei para ele: ´Quero que você seja homem comigo, porque tenho proposta para sair. Futebol é muito dinâmico, a proposta que tem hoje amanhã não tem mais. Quero que tenha caráter comigo e seja sincero. Querem renovar? Então está bom, não aceito a proposta que tenho´. Ele enrolou, enrolou e, no final, não acertou a renovação. Falaram que eu que saí, mas poucos torcedores sabem a verdade. Não foi o Nei que não renovou, foi a diretoria na época que fez sacanagem com a minha pessoa. Deram a palavra que iam renovar, e não renovaram. Fiquei sabendo pela Internet que não ia renovar. Depois nem tiveram a coragem de falar comigo.
"São algumas verdades que existem no futebol e poucos sabem. Machuca na gente. Eu ia renovar, eram mais três temporadas no Inter. Estava no momento bom com a torcida, era capitão do time. Na época tinha comprado apartamento, porque ia renovar... Tive que mudar toda a estrutura porque alguma pessoa não teve caráter para cumprir com o que disse.
"Não me arrependo de nada na minha vida. Fiz grandes amigos no Vasco, foi um aprendizado. Tive a felicidade de conhecer um dos melhores presidentes que trabalhei, o Eurico. Um cara diferente, aprendi muita coisa com ele. Tudo tem prós e contras. Não me arrependo de ter ido ao Vasco.
"O Eurico é um cara de caráter, palavra. O que ele fala para você, ele cumpre, independente de papel ou não. Ele é homem. Tudo que ele falou para mim, vírgula por vírgula, ponto por ponto, ele vem cumprindo até hoje. Dificilmente você encontra pessoas assim. Acho que ele é o maior dos vascaínos. Ele defende o clube como a vida dele. Ele ama aquele clube, então ele transparece uma coisa para fora e para a gente mostra que é um ser humano. Ele é um cara diferente, sabe conduzir o Vasco e os atletas como ninguém.
"Nunca conversei com ninguém da diretoria. Foi passado na época para o meu empresário. Quando voltei, estava treinando em separado. E foi assim. Você vê que tem coisas que vem de fora. O treinador que assumiu ainda foi conversar, pedindo para eu voltar, mas a diretoria não queria que eu voltasse.
"Nem opino, não tenho contato, não são meus amigos, não faço questão nem de conversar ou saber como estão. Minha preocupação é com pessoas que me trazem o bem e somam na minha vida.
"Estava jogando o Catarinense. Das 18 partidas, joguei 17. Acabou o campeonato, vim para casa esperar acabar os estaduais. Quero jogar mais quatro anos ainda. Depois, tentar começar minha carreira como treinador.
"Estou treinando. Se for para jogar Série B, Série C, o que pintar... Eu quero é trabalhar. Se for coisa boa, que me dê estrutura para trabalhar...
"Sou muito hiperativo, não consigo ficar parado. Não nasci para ficar parado. A maior dificuldade (como treinador) vai ser essa. Ter de ficar parado, no banco. Eu vejo muito duas pessoas que sou fã e acompanho o trabalho: Tite e Simeone. Quero buscar me aprimorar como eles.