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      A história dela: a pequena sonhadora Camilinha

      Do preconceito familiar ao sonho de estar com dois últimos brasileiros melhores do mundo

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      "Futebol não é coisa para mulher". De cara, a verdade: não poderiam estar mais enganados. A pequena Camila Martins, de 1,60 cm, ouviu durante muito tempo a afirmação, mas deu de ombros. Seus sonhos foram gigantes, como vem sendo o sorriso no rosto da meia ao realizá-los ao lado de ídolos como Marta e Kaká. 

      Aos seis anos, a Camilinha queria jogar futebol, mas suas amigas na escola não correspondiam. Ela era diferente, e já via isso sempre que eram colocadas para praticar esporte. Resolveu, então, se juntar aos meninos, mesmo que estes fossem "gigantes" que pareciam muralhas dentro de campo. 

      "Meu início de carreira foi, realmente, com os meninos da escola. A gente tinha um time de menina e um de menino. Era engraçado, porque as meninas íam jogar e ficavam em grupinhos na quadra conversando, só eu ficava na quadra correndo, de um lado para o outro. Eu falei para a professora: ´Por favor, deixa eu jogar com os meninos´. Aí comecei a jogar com os meninos, ela viu que eu gostava e um dia ela me levou para jogar junto com os meninos no time da escola. Mas os meninos eram muito mais velhos que eu, eu tinha sete anos e treinava separado, porque eles tinham medo de me machucar, eu pequenininha", conta, em conversa com a reportagem de oGol

      A barreira do preconceito em casa

      Outra muralha, talvez até maior do que a dos gigantes na quadra, foi começando a se colocar na frente de Camila: a do preconceito. Nem era preciso sair de casa para sofrer com as palavras que insistem aparecer no caminho da menina que sonha jogar futebol. 

      qFutebol não é para mulher. É o que mais a gente ouve. Chamavam a gente de menino, que a gente parecia um monte de ´macho´correndo

      "O início foi complicado também porque tinha o preconceito do meu tio, que não aceitava. Meu pai bateu de frente com ele e disse: ´Não, ela gosta e ela vai jogar futebol´. Essa coisa foi bem complicada. Não entendia muito, não dava ouvidos a ele e fazia o que eu amava", conta.

      Camilinha respondeu com sonhos. Nunca deixou de ouvir as palavras preconceituosas ao longo de seu caminho, mas soube usá-las como combustível para crescer na vida.  

      "´Futebol não é para mulher´. É o que mais a gente ouve. Chamavam a gente de menino, que a gente parecia um monte de ´macho´correndo. Também tem o ´não, você é bonita, não tem que jogar futebol. Tem que fazer outra coisa, fica comigo´, aí me abraça, me beija... É um certo machismo. A gente acaba escutando e fala: ´Para quê isso?´ E a gente vira as costas e continua. Apesar de a gente ouvir de um lado e sair pelo outro, tem coisas que marcam. Pessoas que falam isso não sabem da dificuldade que a gente passa e do que a gente busca diariamente para fazer o que a gente ama".

      Em casa, pelo menos, Camilinha se resolveu. Quem um dia foi desgosto por seguir seu sonho hoje é exemplo pelo caminho que traçou na vida. 

      "Enquanto eu fiquei na minha cidade, até os 13 anos, ele (tio) não aceitava. Depois que eu saí de São Bento do Sul ele começou a aceitar e me pediu desculpas pelo que falou. Hoje, ele está muito feliz, tem fotos minhas espalhadas pela casa e tem orgulho em dizer que eu jogo na seleção, que eu já conquistei várias coisas. Hoje ele fala: ´Camila, me desculpe pelo que eu falei antes. Hoje, tenho que te aplaudir, porque você foi em busca de seu sonho e conquistou ele´".

      Um sonho dentre tantos

       A Camila que sonhava hoje realiza. Neste domingo, Camila esteve em Manaus para o amistoso da seleção brasileira contra a Bolívia, que terminou 6 a 0 para o Brasil. A atleta vê de forma positiva o trabalho da técnica Emily. 

      ©Lucas Figueiredo/CBF

      "O trabalho dela começou com uma renovação. Mas não quer dizer que ela vai trazer somente jogadoras novas. Ela diz e a gente percebe que ela não quer jogar fora o que foi feito até hoje, mas ela quer, aos poucos, implantar alguns conceitos dela que podem nos ajudar. Ela vai fazendo um trabalho bacana, vai dando liberdade para a gente. Ela falou que ela não veio para robotizar a gente, mas para passar o conhecimento dela e nos ajudar e nós ajudarmos ela. Está sendo um início bom, a gente está começando a entender o que ela quer, as coisas que vão nos favorecer. Nós temos que pensar que os outros times têm que se preocupar em como a gente joga. A gente tem que ditar o ritmo de jogo, como elas vão nos marcar, e não nós a elas", analisa. 

      Camilinha, de 22 anos, está entre as "novinhas" na renovação de Emily, e vai tendo experiência ao lado de jogadoras renomadas como Cristiane e Marta. Agora, além de ter "a Rainha", cinco vezes eleita melhor jogadora do mundo, ao lado na seleção, Camilinha terá a meia como companheira no Orlando Pride. 

      "A Marta, com certeza, é um espelho para todas as jogadoras. Tudo que ela passou, tudo que enfrentou... Saber como que foi tudo e estar de frente com ela não tem como não admirar. A melhor jogadora do mundo indo para o meu time é uma felicidade enorme. Isso vai ser muito interessante, um crescimento gigantesco na minha carreira. A liga é uma competição incrível, onde tem muitas jogadoras respeitadas. Vou crescer na liga no geral e com uma companheira de equipe incrível", conta.

      Em Orlando, Camilinha terá a companhia de outro brasileiro eleito melhor do mundo: Kaká. O último jogador brasileiro melhor do mundo joga no Orlando City, e, coincidência ou não, sempre foi ídolo de Camila. Foi mais um sonho realizado na chamada "Terra dos Sonhos". 

      "Encontrei ele no almoço, mesmo. A gente se cumprimentou, se apresentou, teve uma conversa rápida. Dois dias depois do ocorrido a gente se encontrou de novo no almoço, falou da recuperação dele, ele perguntou dos nossos treinos... É uma coisa bem bacana, porque você não pensa que vai começar a conviver no dia a dia com seu ídolo. De repente, você esbarra com ele todos os dias, está almoçando com ele... Está sendo incrível". 

      O abismo que separa o futebol feminino no Brasil dos EUA

      Camila vai para sua segunda passagem nos Estados Unidos. Após voltar ao Brasil por conta da seleção permanente em 2016, a jogadora se mostra animada por jogar em Orlando. 

      ©Divulgação

      "Sempre foi desejo jogar no Orlando. Assim que saiu que Orlando ia ter um time, foi o meu desejo estar lá. Tracei o objetivo e consegui chegar até ele. Hoje, estou feliz. Não vejo o momento de estrear", almeja. 

      Na Flórida, a jogadora conta com uma boa estrutura para jogar ao lado das melhores no esporte. Vivendo um sonho, Camila não deixa de torcer para que, um dia, esse sonho se torne real no país em que nasceu. 

      "O futebol nos Estados Unidos é considerado profissional. No Brasil, é como amador, infelizmente, apesar de alguns clubes terem carteira assinada. Nem em todo lugar é assim. Nos Estados Unidos, é no geral. As meninas crescem jogando futebol, vão para escolinhas... Tem universidade que estimula a atleta a jogar, a se empenhar para poder estar no draft, a estar em uma liga profissional. Eles têm uma estrutura para fazer isso. Em Houston, que eu já joguei, era uma estrutura gigantesca. Eles dão todo suporte. No Brasil, não tem. O Orlando Pride, time do feminino, treina na mesma estrutura que o Orlando City, que é o masculino. Estamos diariamente com todos os atletas, nos esbarramos a todo momento. O CT é grande, onde todo mundo pode estar junto. Aqui no Brasil, não. Essa estrutura, no todo, é diferente. Na parte financeira, também é diferente. Se fosse igual, acho que a maioria das jogadoras estaria no Brasil. Isso não acontece", lamenta. 

      Brasil
      Camilinha
      NomeCamila Martins Pereira
      Data de Nascimento/Idade1995-10-10(28 anos)
      Nacionalidade
      Brasil
      Brasil
      PosiçãoMeia (Meia Esquerda) / Defensor (Lateral Esquerdo)

      Fotografias(4)

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