Ex-reserva de Ceni lembra de 7 a 1 são-paulino e pede mudança no gol tricolor

Denis vive a difícil missão de substituir Rogério Ceni, ídolo são-paulino que se aposentou no final da última temporada. Ao longo dos últimos anos, diversos goleiros tiveram a dura tarefa de substituir o camisa 01. Entre eles está Alencar que, em conversa com a reportagem de oGol, lembrou do 7 a 1 são-paulino, falou da idolatria de Ceni e afirmou que Denis desperdiça uma oportunidade de ouro.

O São Paulo preparou Denis para ser o substituto de Rogério Ceni, aposentado dos gramados. A situação foi um pouco diferente com Alencar, hoje perto de completar 41 anos. O agora ex-goleiro jogou três anos no Morumbi, todos na reserva de Ceni. Sempre que Alencar entrava em campo, sabia que o titular voltaria assim que pudesse. 

"Quase não tive oportunidade. Sabia que quando entrava, você tinha uma única oportunidade de mostrar sua qualidade. Foi um aprendizado muito grande. Vim do XV, uma equipe menor, mas, chegando em uma equipe grande, não tive a mesma oportunidade de jogar. Quando a gente entrava, não estava tão preparado como deveria", disse, em conversa por telefone com a reportagem de oGol.

O 7 a 1 são-paulino

©Arquivo pessoal

"Eu não iria para aquela partida. Estava lesionado e vinha me recuperando. Durante o treinamento, o Roger sentiu e, antes do jogo, me perguntaram se eu ia jogar. Quando você é novo e está motivado, você vai para a partida. Jamais ia esperar acontecer o que aconteceu. Acabei falhando no primeiro gol e, depois, acabou saindo os outros gols e não teve o que fazer. Faz parte do futebol", lembra. 

Para Alencar, o resultado não foi o fim do mundo, apesar das críticas. "Todo clube que chegava, a primeira pergunta sempre era o 7 a 1. Muitos goleiros tomaram de sete. O Júlio na seleção, o próprio Marcos no Parque Antártica", desabafa. 

"Acabei ficando em evidência de uma forma negativa, mas o pessoal já me conhecia do XV e entendia que era porque eu não tinha ritmo de jogo. Lógico que nunca é bacana tomar de sete, mas minha carreira seguiu". 

Em 2002, Alencar deixou o São Paulo. Depois, jogou por União Barbarense, Gama, Caldense, Democrata, São Bento, América Mineiro, Marília e Iraty.  

A tarefa de substituir Ceni

Depois de pendurar as chuteiras, Alencar chegou a trabalhar na diretoria do Londrina antes de começar seu próprio projeto de formação de goleiros e atletas, o Centro de Formação de Futebol 01. O nome e o título "01" é uma homenagem a Ceni, que usava essa camisa no Tricolor. 

©Bia Fernandes

Alencar agora acompanha as notícias do São Paulo de Londrina. De lá, observa Denis, que vai sendo o substituto de Ceni no time. O antigo goleiro sabe bem da dificuldade pela qual passa o atual titular, apesar de tê-la vivido de uma outra forma. 

"Acho difícil alguém se firmar no gol do São Paulo. O Rogério Ceni foi um ídolo, chamado de mito. O goleiro que entra ali tem que ser ele mesmo, não tem que querer ser o Rogério Ceni, ser um líder ou fazer algo que o Rogério fazia. O que acaba complicando os goleiros que têm essa oportunidade é isso. Essa é a grande dificuldade, substituir um cara que é ídolo, que bateu todos os recordes. É um goleiro diferenciado que batia falta", disse. 

Para Alencar, Denis não vem aproveitando bem a oportunidade que vem recebendo. Até o momento, o goleiro fez 40 partidas no ano, tendo sofrido 44 gols. 

"Não vejo ele como camisa 1 do São Paulo, não. O Denis teve uma passagem boa na Ponte Preta, onde ele apareceu, mas ele não está sabendo aproveitar a oportunidade que está tendo", criticou Alencar.  

"A gente até viu o Denis tentar bater falta, e isso não é dele. Ele tem de tentar fazer a parte dele independente de qualquer coisa. Tem que ter tranquilidade e fazer o trabalho que fez no clube anterior", aconselhou. 

Apesar de ponderar o suporte que vem sendo dado a Denis, e o trabalho que vem sendo feito nos bastidores do atleta, Alencar acredita que é a hora de um novo goleiro assumir a meta são-paulina. 

"Hoje, o reserva do Denis merecia uma chance, com certeza. Está na hora de dar oportunidade para o Renan (Ribeiro). O Denis teve a oportunidade dele, e o Renan, quando entrou, deu conta do recado. Seria o momento de dar a oportunidade para ele. É duro ficar tanto tempo no clube e não ter oportunidade. O Denis está tendo e não está aproveitando".

A solução poderia estar também fora do Morumbi. Alencar vê a situação de Walter no Corinthians parecida com a de Denis, com a ressalva do corintiano ter aproveitado melhor as chances que teve. 

"A gente vê hoje no Brasil muitos goleiros com qualidade que poderiam ser titular do São Paulo. Exemplo o Walter, do Corinthians. Quando ele teve a oportunidade no Corinthians, soube aproveitar muito bem...", afirmou.

Alencar ainda vai mais longe, e chega a garantir que "se tivesse a oportunidade que o Denis está tendo hoje, eu teria me saído muito melhor. Eu saberia aproveitar melhor essa oportunidade que o Denis está tendo". 

Confira outros trechos da entrevista: 

Relação com Ceni

"Sempre tive um bom relacionamento com o Rogério, a gente sempre conversa, até hoje. Aprendi muito com ele, foi uma convivência muito boa. 

Chances como goleiro são-paulino

Eu cheguei em um momento no São Paulo que o Rogério era ídolo, estava na seleção brasileira, então é difícil. Se tivesse a oportunidade do Denis, abraçaria isso e estava dando conta do recado, com certeza. 

Análise da carreira

"Todo jogador sonha em chegar em clube grande. Eu cheguei e fiquei três anos. Consegui construir minha família e, tudo o que tenho, foi o futebol que me proporcionou. Hoje tenho uma escola de futebol, e uma coisa leva a outra. Tudo que tinha que passar, passei no futebol. Só tenho a agradecer ao futebol pela pessoa que sou e pelo que tenho e conquistei na vida. 

O goleiro ideal para o São Paulo hoje

No mercado, hoje se for tirar no Brasil um goleiro de um clube eu tiraria do Corinthians, o Walter, que é o que jogou as partidas, teve uma sequência muito boa e encaixaria certinho no São Paulo. 

Trabalho na formação de goleiros

"Em 2012, eu abri a escola de formação de goleiros 01. O 01 é até uma homenagem ao Rogério Ceni, ele sabe disso. Nós falamos para ele e mandamos uma camisa da escola para ele. Já estamos há cinco anos revelando e formando goleiros. Temos gente no Santos, no Fluminense... A gente atende os garotos até 20 anos, goleiro profissional também, e pessoal amador, que gosta de jogar no final de semana. Independente, se é gordinho, baixinho, alto... A gente faz o trabalho. Criamos agora também a escola de futebol 01 (www.cff01.com.br). A gente está fazendo o que gosta. Hoje é a nossa vida, trabalhar com os garotos.